20 de jan. de 2010

Que herói...

“É impossível deixar de nutrir algo que se alimenta sozinho. Como não regar um amor que cresce independente? É como não cometer loucuras em um manicômio.”
Era o que pensava nosso herói solidário. Era o que vinha a sua mente em um momento como esses. Que vontade que tinha de gritar, de mostrar a todos o que sentia. Bobo. Não precisava de nada disso. Bastava viver, bastava existir, deslizar. Palavras sempre foram um caminho dificultoso para o rapaz. E por que insistia tanto em se expressar por elas? Desenhava tão bem, tocava tão deliciosamente, ouvia tudo com tanta sensibilidade que seria capaz de causar inveja a um cego. Mesmo assim, sempre, sempre, sempre tentava escrever cartas de amor, sempre tentava externar em frases, letras, contos, poemas, tudo que sentia. Mas nunca passava do começo. Nunca deixava de amassar uma página antes da segunda linha e seguia torturando-se como faz uma tartaruga com sede que tenta atravessar a ponte Rio-Niterói em busca de água que só encontra no outro lado. Feliz e infeliz esse nosso herói. Tinha a felicidade na mão, no peito, na cabeça. E queria pô-la pra fora de todos os jeitos! Mas que mania! Não lhe bastava a tela, não lhe bastavam as teclas do piano, as cordas do violão. Tinha porque tinha que escrever lindas palavras tolas de amor. Ridículo como todos os amantes, escrevia bobeiras numa folha de papel. Autocrítico como nenhum amante, amassava tudo. Até que um dia sua irmã revirou sua lata de lixo. E chorou. Chorou em cântaros, como nunca havia chorado em sua vida. De emoção, por ler coisas tão lindas. De tristeza, por vê-las no lixo. Contou sua desventura ao irmão. Ele, confuso, passou a desentender todo esse negócio de escrita, poemas... e até mesmo passou a duvidar de sua capacidade ao violão, ao piano, ao pincel. Curioso esse nosso herói.

Nenhum comentário:

Postar um comentário