3 de nov. de 2009

RECO-RECO

Uma festa anômala. No meio de uma casa, um quintal e uma roda de samba esquisita, sinistra. Um negro azul virava os pés enquanto sapateava. Seus ombros saíam do lugar freqüentemente, indo cada um prum lado. No meio dessa dança leve, seus dedos cresciam e erguiam o pandeiro aos céus, sem perder o ritmo. Sem falar dos olhos, que tinham as pupilas do tamanho das orelhas, saltando pra fora de sua remexida face.
Uma linda menina sentada ao canto, recolhida em si mesma, de lenço vermelho nos cabelos e vestido preto sobre a pele, olha pra seus joelhos de maçã. Enquanto isso, uma galinha d’angola pula e grita sem parar, esbaforida e insaciável, soltando intermináveis penas azuis e verdes, que não demorariam muito para cobrir o lugar inteiro.
O som não parou e as penas pareciam dançar também. E assim, com tudo e todos bicoloridos de verde e azul, começou uma roda de capoeira. Os jogadores voavam e flutuavam e pousavam de volta ao chão. O berimbau, já descoberto, tomou a forma e a luminosidade de uma lua decrescente. E, a cada toque, intensificava-se seu brilho.
De repente, uma cortina vermelha enorme vem caindo do céu e cobre a cena. Estranhamente, ela vai-se adaptando ao chão, até ficar completamente lisa e acomodada. Os personagens somem. E a narrativa segue o exemplo.

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